Fachada: o lado situado no exterior. O que é visto de forma primeira. O escancarado.
E é bem
verdade que, embora nem sempre haja sintonia entre o que há de fora e o de
dentro, por aqui isso é quase um postulado. A concordância é nenhuma, ou quase.
O ceticismo
exposto esconde a utopia do amor. A boca que alardeia tendência poligâmica na
verdade quer viver pra sempre no mesmo colo.
O cérebro que muitas vezes calcula o tamanho do passo queria mesmo era
pular. Às vezes mergulhar de cabeça. Inconsequência. Anda, calcula, mais por
medo do que por convicção. Raramente convicção.
O coração
grita, exige atenção e, embora a receba de madrugada, na luz não tem a mesma
sorte. É calado a cada volta do ponteiro. Que vergonha, oras, diz ele pra si mesmo.
Isso não
existe, diz ele, querendo acreditar. Nega, balança a cabeça. O coração cobra na
madrugada, mas já é tarde demais.
Acostumado a
afirmar fatos e certezas, discorre sobre sua opinião como um jornal expõe um
fato, mas omite suas inseguranças. Na verdade, não sente nenhuma certeza.
Às vezes
deixa passar, sem querer, a voz do coração que só surgia no escuro, mas logo
retifica, alegando engano. Pergunta-se: até quando vai durar todo esse peito de
aço, mas esquece e segue. Na verdade, não esqueceu.
Que linda
essa fachada! Vale a pena?
Luciano Leite
de Castro
Goiânia, 18/11/2020.
Nenhum comentário:
Postar um comentário