Holocausto
Therezinha Melo Urbano de Carvalho*
Sem
aviso, sem sirene tocar, sem o menor sinal de “Perigo”. O estrondo. Brumadinho
despedaçada, afogada e afogando muitos dos seus filhos na lama com dejetos da
barragem do Feijão.
Não se pode expressar em palavras aquele momento desesperador. Um espetáculo deprimente e dantesco. No doloroso holocausto não foram dejetos a inundar aquela região; foram pessoas que tiveram a vida ceifada. Talvez, meia hora antes, na pousada, faziam planos para um futuro feliz.
Braços, rostos, mãos enlameadas, procurando socorro desesperadamente, para logo desaparecerem na lama assassina. Oh tragédia! Naquele momento horrível, vidas tragadas pela imprudência de muitos, o desejo de poder e do vil metal, necessidade de vivência e de trabalho de tantos outros. Nem todos conheciam a gravidade e o perigo.
A
Vale tecnicamente conhecia a realidade desta e de outras barragens. Uma parte
das forças do Executivo, Legislativo e Judiciário não desconheciam o problema.
Nada fizeram. Nada! “Deixa como está para ver como fica...” Mas não ficou.
A força das águas da barragem do córrego do Feijão levou Brumadinho, Minas, Brasil, ao topo das notícias dramáticas do mundo inteiro. Minas Gerais se dobrou, chorou, ajoelhou-se diante do acontecimento. E se fez presente em muitos voluntários, especialmente o Corpo de Bombeiros do Estado. Como seu representante emocionado falou: “É como se fosse o pai ou a mãe de cada um de nós”. É preciso render uma homenagem a estes heróis que não fugiram da luta e provaram que mineiro tem alma de doador e alegria de servir.
Minas Gerais está sofrida, abalada, com o rompimento em Mariana e Brumadinho. As consequências nefastas das barragens estão claras e inevitáveis. Seu rompimento atingiu duas regiões ricas em mananciais, de terras produtivas do nosso Estado. A recuperação será difícil, longa, permanente. Mineiros estão de “olho vivo”, forças vivas e com coragem para defender essa terra.
O que a natureza demorou tempos e tempos para formar, nossas montanhas, montes de belo horizonte... máquinas possantes e atitude desumanas destroem. Acabam com o que a natureza de belo nos deu. “Das montanhas de Minas corre o fio, sem fim, de memórias.”
Minas
é mar de terras, marés de montanhas, Minas encanta com suas riquezas. Pena é
ser explorada há tanto tempo, com pouco reconhecimento dessas riquezas. Minério
de Minas precisa de mais Justiça. Isto foi falado por Joaquim Herculano Rodrigues,
ainda em 2012, em Diamantina. Lá se vão sete anos e nada mudou.
2019
será marcado como ano de tragédias. Para Minas e para o Brasil. Marco para
sempre.
Infelizmente,
no mundo, falta compreensão, afeto, amor. Sobrou neoliberalismo, descuido com o
meio ambiente, intolerância com as minorias. Está faltando no mundo inteiro o
gosto por poesia para entender melhor a vida e a aproximação entre as pessoas.
A Academia de Letras de Teófilo Otoni (MG) lançou na revista, em 2018, o tema
“Amor perfume que espalha”. Através da literatura os homens podem fazer uma
ponte...
Como
ressalta Guimarães Rosa, Minas vive entre o interior e o moderno, passado e
futuro. Mas é chamamento: “Mineiros AGORA”. Bastam embates e perdas no Estado.
Unidos, lutemos pelo nosso crescimento. Mesmo que fiquemos mais pobres pela
falta dos royalties das siderurgias, a vida será mais digna, mais segura e
tranquila.
Fiquemos de pé, mineiros, “jamais assentados”. Olhando para o alto, para nossas montanhas e belo horizonte, contemplando as estrelas e buscando nas paisagens força e coragem para surgir... uma nova MINAS GERAIS.
*Terezinha Melo Urbano de Carvalho, educadora aposentada, escritora e poetisa, é membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni, titular da cadeira 25.